segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Desvalorização do Trabalho Artístico Musical
















Cotas de ingressos.

Justo ou injusto, esse tal esquema é polêmico e requer um pouco de cuidado.

Você já pagou por algum trabalho que fez quando na verdade deveria receber?

Muitas bandas por aí responderão em uníssono um SIM vergonhoso, porém, é o único meio que muitas delas encontram para se promover em meio a tanta burocracia neste underground cheio de falhas!

As ditas “promotoras de shows” no Brasil encontraram um meio de ganhar dinheiro de forma rápida e fácil que é dar a falsa esperança a uma banda de pequeno porte de poder tocar no mesmo evento que uma banda grande e em evidência. Basta vender uma quantia variável de ingressos, repassar o dinheiro aos organizadores e pronto! Sua banda terá um horário chinfrim para se apresentar a um público ridiculamente inferior aos que pagaram mais para tocar em horários satisfatórios.

Entra aí outro quesito que não poderia descartar: playboyzinhos que têm mais grana (e porventura tocam pior), evidentemente, têm mais chances de apresentar seus trabalhos a um público considerável, enquanto aquelas bandas que batalham para se manter vivas neste meio burocrático são chutadas às latas, ainda que tenham um som agradável e certeiro!

Devo ressaltar que já realizei (e ainda realizo) festivais com bandas na cidade onde moro (o [MOSH]) – em Cambuí, Minas Gerais – e jamais utilizei este esquema de cotas. Não digo que não pensei em usar, porém há uma grande diferença entre aqueles que pensam e aqueles que efetuam. Eu poderia ter tirado um lucro bacana em todos eles, mas tenho a consciência de que não estaria valorizando de forma alguma o trabalho das bandas e, como tenho banda, sei o quanto é difícil poder se destacar na cena quando TODOS os festivais que você quer tocar utilizam o (in)devido esquema.

Não tiro a razão de quem usa a venda de ingressos como única forma de inserção de bandas em um cast, afinal, seu sustento – certas vezes – depende disto, só não me conformo com a desculpa de muitos deles em dizer que, se não for assim, serão as bandas que não valorizarão o trabalho de quem investe na produção de festivais.

Por um lado é plausível entender a versão dos organizadores e como eles se esforçam para manter o nome de um evento ativo por longos anos, mas muito disso é por conta das bandas que chegam a investir mais de R$ 3.000,00 (em diversos casos) para poder estar entre grandes nomes da cena em um festival. Ou seja: não são os organizadores os principais responsáveis pelo crescimento de um evento, mas sim as bandas que, submetidas ao esquema de cotas, fortalecem os bolsos daqueles que deveriam valorizar o trabalho alheio.

Eu sou totalmente contra, mesmo tendo tentado, por vezes, tocar com a Venerata em festivais assim e nunca ter conseguido pelo simples fato do absurdo que é conseguir vender uma quantia elevada de ingressos para poder se apresentar ao meio-dia, pra ninguém, com vinte minutos de palco. É mole?

Não, não é mole, é revoltante. Mas enquanto houver interessados em desvalorizar o próprio trabalho se submetendo a esquemas podres como este, haverá as malditas cotas de ingressos.

Por sermos uma banda do interior, distante do foco principal onde rolam as bandas que têm mais chances de se destacar na mídia, estarmos vinculados a esta desprezível forma de “escravidão musical” seria a forma mais rápida e prática de mostrar o que somos capazes para um público diferente do que é encontrado no sul de Minas Gerais, porém preferimos nos manter afastados de qualquer forma de extorsão que nos privaria do orgulho que é crescer sem depender desta prática mesquinha. E estamos conseguindo!

Eu não precisei pesquisar sobre este assunto em nenhum lugar, pois nem mesmo o Google é capaz de esclarecer este esquema – eu vivenciei isto (e vivencio). Pra mim, já é o bastante para que eu possa determinar minha convicção a respeito disto:

A Venerata jamais fará parte deste equívoco!

// Aprecio iniciativas como:

Toque No Brasil

No Pay For Play

Por Ricardo Michilizzi

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