sábado, 10 de outubro de 2009

[conto] O Manual do Suicida



A capa de veludo, preta, continha detalhes em dourado nas bordas e uma camada fina de poeira decorada entre a lisura do logo estampado, sutilizando a morte contida no interior de suas 507 páginas. O nome sugestivo despertava a curiosidade de qualquer indivíduo que, por hora, tocasse os olhos naquele livro velho e surrado: “O Manual do Suicida”.
O interesse foi imediato.
Bastou o destro anelado dispersar parte do pó sobreposto às letras cintilantes e foscas; a exatidão do título era chocante. Um despertar.
A primeira página virada, encardida, vazia. A segunda, o título acima de uma data minúscula e uma anotação indecifrável, apagada, escrita com algum tipo de caneta esferográfica, talvez uma assinatura:
“19/12/1879 – Ahdek Noah Schumrashu”.
Uma nova página e um aviso dinâmico, interrogativo e persuasivo:

“És dono de si? Dono de sua vida?
Comanda teus anseios e desejos?
Respeita a vida alheia como a própria?
Cansara de percorrer o traço doloroso que é a existência?

Conforme positiva forem as respostas,
Eis aqui a receita especial que o tornará livre.
Um manual completo, passo a passo, em que o aprendiz adquire conhecimentos avançados a métodos eficazes de como proceder em sua auto-desistência.
O fim do fracasso.
O fim de um ciclo.
O fim de um laço árduo, repleto de nós desatáveis.
A vida desligada, enfim.”


Proceda por sua determinação.
Seja feita a tua vontade.
POR RICARDO MICHILIZZI

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